No romance “1984”, George
Orwell imaginou uma sociedade totalmente vigiada pelo que denominou na sua obra
de ficção de Grande Irmão (Big Brother), trabalho que o tornou mundialmente
conhecido por provocar uma reflexão sobre os excessos do Estado e suas
prerrogativas diante de cidadãos comuns. No livro, escrito em 1949 pelo autor
sobre um futuro próximo, o protagonista Winston Smith representa o cidadão
comum vigiado o dia inteiro pelas telas.
Ironicamente, nem o
próprio autor poderia acertar em tantas coisas. Não apenas pela necessidade de
vigilância constante que o cidadão permite em troca de uma sensação de
segurança, o que viabiliza que se tenha câmeras por todos os lados, mas também
por aspectos culturais que nos fazem abrir mão da privacidade, em troca do uso
da tecnologia e de seus recursos na Internet.
A diferença em relação à
obra de Orwell é que em tempos de conexão digital não há informantes outros,
senão nós mesmos. Expomos detalhes sobre o que temos, fazemos e com quem
estamos a todo o tempo. Nossos dados bancários, números de documentos, a
empresa na qual trabalhamos, preferências, gostos, comidas, viagens... tudo
está em rede, seja aberta ao público por meio das redes sociais, seja em bancos
de dados governamentais, como declaração de Imposto de Renda, acesso à rede
bancária etc.. Não há praticidade na vida contemporânea que não inclua um
cadastro básico com nome, endereço e alguns dados pessoais.
É claro que até o início
dos anos 2000, muito se falava sobre o quanto a Internet, criada inclusive com
propósitos militares para a atuação em guerra, seria a principal “arma” dos
tempos modernos para identificar pessoas e com os mais diversos propósitos militares
e políticos das superpotências mundiais. Mas, foi em 2013, quando o ex-agente Edward
Snowden, da Companhia de Inteligência Americana (CIA), revelou documentos que
mostram como o Governo monitora os cidadãos, que veio em definitivo a
comprovação: sim, somos todos vigiados e consentimos isso. Para Snowden, isso acontece
desde quando se usa serviços de empresas como o Skype, o Google, o Facebook, os
e-mails podem ser lidos, as conversas ouvidas, os conteúdos indexados e as
ligações telefônicas rastreadas. É fato.
Imaginar que a Internet é
campo de privacidade é uma grande ilusão, apesar de que a todo tempo tenta-se
passar essa impressão. Então, resta apenas usá-la de maneira cuidadosa, sem
ingenuidade. Na busca por informações e, especialmente, antes de fornecer
qualquer dado pessoal, é importante ler as letras miúdas dos termos de
aceitação, até (e principalmente) das redes sociais. Algumas já avisam que
utilizarão todo o conteúdo postado por você para te oferecer produtos, outras
dizem que não fornecem dados dos seus usuários. É importante tomar certas
precauções e, apesar delas, ainda não se impede que dados pessoais sejam
encontrados. Mas, é possível evitar muitos transtornos e usos indesejados.
Afinal, tem muita gente à espreita, querendo dar golpes por aí, usando as
mesmas ferramentas que você utiliza para se divertir. Todo o cuidado é pouco.
* Texto publicado na Coluna Mosaicos Digitais, Revista Domingo Jornal de Fato, edição de 17/10/2015
* Texto publicado na Coluna Mosaicos Digitais, Revista Domingo Jornal de Fato, edição de 17/10/2015
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