quinta-feira, 22 de julho de 2010

Políticos e Twitter: o ‘corpo-a-corpo’ mediado por computador














José Agripino atualizando o seu twitter.


Se vivo fosse, o filósofo Marx Weber certamente faria as suas análises teóricas com base numa nova relação entre os que detêm o poder político e aqueles que são a massa da sociedade. Seria impossível não olhar atentamente para as novas formas de relacionamento na sociedade capitalista e não perceber, por exemplo, os novos mecanismos de convencimento, aproximação e divulgação usados por políticos ou órgãos governamentais possibilitados com o surgimento da Internet a partir dos computadores.

Marx Weber entre tantos estudos que realizou sobre a sociedade de seu tempo tratou das formas legítimas de poder até hoje importantes na análise para se compreender também as relações de poder do nosso tempo.

Weber em seus estudos colocou que existem três formas legítimas de poder: o tradicional – quando há a aceitação sem questionamentos do poder político que é legitimado; o racional – onde com base de argumentos e princípios lógicos e teóricos fazem sentido para uma massa substancial da sociedade que dá suporte a esse poder e, por fim, o carismático – onde o político atrai a simpatia, a confiança das pessoas, criando uma identidade com os cidadãos, um laço emocional que legitima o exercício do poder. O político que segundo Weber, tiver todos estes itens terá em suas mãos o poder devastador de fazer o que bem entender.

Não acredito que os dois primeiros tenham perdido a sua força nos dias atuais, mas certamente o carisma é uma das formas mais eficazes de legitimação do poder até hoje. É aquele ‘algo mais’ perseguido pelos políticos e que os blindam das medidas impopulares, das denúncias de corrupção, da defesa descabida a políticos mandões e autoritários. O carisma é algo que não se compra facilmente e que é fundamental para um político permanecer no poder.

Por muito tempo esse carisma era conquistado a partir de medidas relacionadas à imagem do político, que fazia de tudo para mostrar ser ‘povo como povo’ em campanhas onde entrava na casa mais humilde, abraçando e beijando criancinhas e comendo no mesmo prato da família simples. Não que isso tenha mudado (algumas destas práticas ainda são eficazes para muitos deles), mas surgem outras formas de se ganhar carisma do público. Também a partir da influência de mídias como a Internet na atual sociedade.

A Internet é vista como um tipo de mídia alternativa, onde a sociedade incluída digitalmente expõe opiniões e propostas que na maioria das vezes não aparecem nos meios de comunicação tradicionais. Na Internet espaços onde antes eram utilizados de maneira pouco atrativa e funcional, passaram a ganhar uma funcionalidade informativa, caso, por exemplo, dos blogs. De diários virtuais deixou de ser apenas o lugar do relato pessoal, mas principalmente um espaço de informação e de serviço para a sociedade.

Em meio às muitas ferramentas que surgiram na Internet, está o Twitter – com a pergunta ‘o que você está fazendo agora?’ – seria um mero espaço para o relato pessoal quando criado em 2006. Mas, acabou se tornando ‘um lugar’ para a expressão de opiniões, para a troca de conhecimento e para a informação, de maneira mais participativa. Com seus milhões de usuários no Brasil, este espaço passou a atrair políticos percebendo nele uma ferramenta de aproximação dos seus eleitores.

Twitter trabalha o carisma

O que José Agripino, Fátima Bezerra, Iberê, Vilma de Faria e Barack Obama têm em comum além do fato de serem políticos? É que eles estão usando o Twitter como ferramenta comunicativa para divulgar ações dos seus mandatos.

No livro ‘Tudo o que você precisa saber sobre Twitter’, Juliano Spyer faz uma comparação muito boa para entender o uso dessa ferramenta por vários políticos que aderiram à ela. Ele diz que nenhum político estranharia se visse em sua agenda eleitoral tempo reservado para o chamado “corpo-a-corpo eleitoral”, ou seja, para andar por um bairro e escutar o que os cidadãos têm a dizer - elogios e críticas - e responder mostrando o que pensa sobre cada assunto levantado. No campo da disputa política por cargos eletivos, o Twitter é a versão online desse corpo-a-corpo.

José Agripino, candidato a reeleição para o senado, ano passado foi considerado um dos dez políticos nacionais que mais usam a internet. Ele reconhece o valor deste meio como ferramenta de comunicação direta tanto com a população, quanto com a imprensa e já anuncia que defende o twitter como ferramenta de campanha no período eleitoral.

O atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama e sua concorrente na eleição anterior Hillary Clinton usaram essa ferramenta durante sua campanha em 2008, aproveitando o canal direto com os cidadãos para avisar sua agenda e compartilhar perspectivas sobre assuntos sendo debatidos durante a eleição. Agora usa o twitter para prestar contas de suas ações.

Dois exemplos entre centenas de políticos no Brasil e no exterior que percebem no twitter uma forma de renovar o seu carisma perante o público que é capaz de assimilar e emitir opiniões. Um público que se mostra mais jovem e que ‘já nasce’ sabendo lidar com ferramentas como esta.

Não é a toa tanto interesse. No Brasil, uma pesquisa divulgada em maio deste ano mostrou que o perfil médio do usuário de twitter no Brasil é de pessoas qualificadas, estudantes do ensino superior e pessoas já graduadas na universidade. São heavy users de internet e costumam passar quase 50 horas semanais conectados.

Além disso, são formadores de opinião. A maioria dos membros da rede Twitter no Brasil possui seu próprio blog, cerca de 87% das pessoas confia nas opiniões dos outros membros e quase 85% acredita que o Twitter aproxima as pessoas.
Com até 140 caracteres o twitter é ferramenta pessoal e ao mesmo tempo coletiva.

Para políticos, funciona como o corpo-a-corpo, pois o twitter se assemelha aquelas informações que soam como um cochicho ao ‘pé-do-ouvido’ de alguém querido. Quando o senador Mercadante anunciou no twitter que deixaria a liderança do Partido dos Trabalhadores em agosto último, o disse no twitter para seus milhares de seguidores, tornando este público privilegiado nesta informação. Mesmo que depois ele tenha voltado atrás de sua decisão, o twitter foi o espaço escolhido por ele para dar a notícia ‘em primeira-mão’ em detrimento dos veículos tradicionais como jornais, revistas, rádios.

Entre as dicas para quem deseja assimilar de maneira positiva Spyer ainda coloca que não é o espaço do discurso, mas da interação com os leitores. ‘Não discurse, interaja’ – diz. “O Twitter não é lugar de comício. Os participantes tiram proveito da chance para interagir, perguntar e comentar”, afirma o autor.

O Twitter pode ser uma ferramenta poderosa na política porque promove debates, favorece a disseminação de informação, mas o resultado de uma ação reflete o grau de envolvimento de seus participantes com a causa promovida. Se o perfil do político for usado mais para auto-promoção do que para a utilidade do público, logo o usuário fecha as portas ‘para o corpo-a-corpo’ e passa a ser mais um a emitir opiniões negativas sobre a atuação de determinado político. Com a diferença de que neste espaço virtual, os que pensam igual podem ser mais facilmente localizados, independente de onde estejam e se tornam uma força que não pode ser desprezada para o lado positivo ou negativo. No espaço real ou virtual, o carisma ainda é algo difícil de ser conquistado.

Bibliografia consultada

SPYER, Juliano. Tudo o que você precisa saber sobre Twitter. Acesso em 31 de agosto de 2009. Disponível em: http://www.talk2.com.br/debate/talk-show-sobre-o-twitter/

WELFFORT, Francisco Correia. Os Clássicos da Política. Col. Fundamentos – Vol. 1. 2006.